quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Não existe almoço grátis


Não há almoço grátis

Onde ouvi isso? Parece-me que foi da Suzana. Certas coisas estão fazendo sentido agora na minha vida, com a prática, com a realidade histórico crítica.
Reflito sobre isso.
Uma criada, por exemplo. Ela pode pensar que seus patrões levam uma vida próspera e sem problemas. Pode ficar intrigada com o controle, com a economia com a restrição a certos alimentos.
Pode não valorizar a água que gasta, a luz, o alimento e algumas roupas que ganha de seus patrões.
Lógico que existem patrões e patrões. O emprego doméstico tem esse preconceito embutido por ser uma categoria substitutiva do labor das escravas nos tempos coloniais. O Brasil é escravagista e colonialista.Senti isso na pele.
Empregados, por exemplo, são todos os que exercem uma função em troco de um salário, de um vencimento.
Existem empregos prestigiados e desvalorizados.
Mas quando se refere a uma doméstica, sempre falam “Ah, é a empregada” .
E as pessoas pobrezinhas sempre têm a mania de achar que os mais favorecidos economicamente têm a obrigação de mimá-los com cestas básicas, agasalhos, calçados. Esquecem que na vida não tem almoço grátis.
São coitadinhos, são pobrezinhos. Precisam de um almoço grátis.
Uma vez, atendi um mendigo querendo dinheiro com o pretexto de comprar um pãozinho.
Disse a ele que não tinha dinheiro, mas que havia acabado de fazer o almoço e que se ele quisesse, poderia lhe oferecer esse almoço, coisa simples, pois não tinha feito as compras do mês.
Em um pote de plástico coloquei o que havia: arroz, feijão, ovo frito (fumegando) e alface.
O mendigo recebeu o pote, cheirou, resmungou, fez uma careta e perguntou:
__Não tem carne?
__ Não, eu não fiz compra ainda. __ como se fosse a minha obrigação dar satisfações da minha vida privada a esse senhor ilustre.
__Ah_ desanimado__ Obrigado.
Saiu, carregando o pote na sacolinha de plástico.
Adiante, como se não importasse se eu estava ou não o observando, destampou o pote, virou toda a comida na calçada, sujando a calçada da vizinha.
E levou meu pote embora. E a minha colher também.
Bateu palmas na próxima casa com a mesma lenga.
Bem, hoje, perturbo as pessoas que estão ligadas às secretarias de educação da vida com os meus dilemas financeiros e existenciais. Sei que sou um pé no saco. Sei que fiz mais filhos do que manda o bom senso. E se não fosse o abençoado Dr. Japonês faria mais uns dois. Era boa nisso, mesmo com anticoncepcional, bendita fertilidade.
Mas eu estou determinando aquilo que é meu, que eu lutei para conquistar.
Não estou pedindo um almoço grátis e nem um troquinho para tomar um marafo.Não obrigada, eu não bebo.
E não viro potes de comida na calçada. Procuro fazer um bom trabalho. Sei o valor da coisa e o sacrifício que leva.
Obrigada, Suzana Menin. Não chores por mim.
Aprendi a me cuidar.
Entendi que não tem mesmo almoço grátis.
“ Comerás a Patrícia com o suor do seu rosto” . Ops!
A Patrícia comerá com o suor do seu rosto e com a força da sua garganta e da sua pedagogia e didática e blá, blá.





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