quinta-feira, 25 de junho de 2009

Chomsky

Chomsky

Segundo Pinker (2002, p.14), "no século 20, a tese mais famosa de que a linguagem é como um instinto foi elaborado por Noam Chomsky, o primeiro lingüista a revelar a complexidade do sistema e talvez o maior responsável pela moderna revolução na ciência cognitiva e na ciência da linguagem." Antes, as ciências sociais eram dominadas pelo behaviorismo, a escola de Watson e Skinner, que não estudavam os processos mentais e rejeitavam a existência de idéias inatas.

Chomsky chamou atenção para dois fatos fundamentais sobre a linguagem. Em primeiro lugar, cada frase dita ou ouvida é uma nova combinação de palavras, que aparece pela primeira vez na história do universo. Por isso, uma língua não pode ser um repertório de respostas, o cérebro deve conter alguma receita ou programa que consiga construir um número infinito de frases a partir de uma lista finita de palavras. A esse programa damos o nome de Gramática Universal (GU).

Segundo Chomsky (1959,1987 in STENBERG, 2000), um cientista marciano observando crianças numa comunidade de linguagem única concluiria que a linguagem é quase completamente inata. Isso nós leva ao segundo fato observado por Chomsky, o ritmo que as crianças adquirem palavras e gramática sem serem ensinadas é extraordinariamente rápido para ser explicado apenas pelos princípios da aprendizagem, o que ele chama de "pobreza de estímulo". As crianças criam tipos diferentes de frases, que nunca ouviram antes, e por isso mesmo não podem estar imitando. Além disso, muitos dos erros cometidos por crianças pequenas resultam do excesso de generalização (superextensão) das regras gramaticais lógicas.

Para resolver esse problema, Chomsky (1957, 1965 in SCARPA, 2000, p.209) postula "a existência de uma série de regras gramaticais, mais um procedimento de avaliação e descoberta, presentes no Dispositivo de Aquisição de Linguagem (LAD); ao confrontá-la com o input, a criança escolhe as regras que supostamente variam parte de sua língua."

Num segundo momento, Chomsky introduziu a chamada Teoria de Princípio e Parâmetros, onde ele retoma o problema da "pobreza dos estímulos" com uma atitude platonista ante a linguagem. Chomsky transfere o problema de Platão (como é que o ser humano pode saber tanto diante de evidências tão passageiras, enganosas e fragmentárias?) para a linguagem. Desse modo, vincula a linguagem aos mecanismos inatos da espécie humana; surge a idéia dos universais lingüísticos. De acordo com essa visão, o homem vem equipado, no estágio inicial, com uma Gramática Universal (GU), dotada de princípios universais pertencentes à faculdade da linguagem e de parâmetros não-marcados que adquirem seu valor no contacto com a língua materna. Alguns dos parâmetros que têm sido estudados são: se a língua aceita sujeito nulo ou preenchido, se o objeto é nulo ou preenchido, o tipo de flexão ou estrutura do verbo etc. (SCARPA, 2000)

Dessa forma, Chomsky (1980 in WOOD, 1996) nos conduz à concepção da capacidade de aquisição da linguagem quase como um "órgão mental". "Os sons de fala que estimulam os nervos auditivos são 'processados' naturalmente de modo a revelar (a acerta altura) as regras pelas quais aquela fala se estrutura." (WOOD, 1996, p. 165) Assim, apesar das várias línguas serem aparentemente diferentes quanto a sintaxe e a fonética, Chomsky acredita que todas sigam certas propriedades universais, para cuja produção e aquisição desenvolveu-se evolutivamente num sistema congênito (DAL).

Uma outra decorrência do inatismo lingüístico é a modularidade cognitiva da aquisição da linguagem. Dessa forma, a relação entre a língua e outros sistemas cognitivos como a percepção, a memória e a inteligência, é indireta, ou seja, a aquisição da linguagem não depende dele e nem de nenhuma interação social.

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